Jacob Stainer, fundador da escola austro-germânica de luteria.

June 15, 2021

Único luthier "não-italiano" considerado uma das maiores referências na luteria mundial, Stainer rivalizou com os grandes mestres de Cremona o protagonismo na arte de construir instrumentos no seu tempo.


O principal criador da escola austro-germânica, Jacob Stainer foi um dos mais famosos luthiers de seu tempo na Europa antes de Stradivari, e o único luthier não italiano a se classificar como uma das maiores referências na luteria. Antes que a música orquestral dominasse o cenário mercadológico, substituindo de certo modo a música de câmara, bastante popular no período barroco e clássico, os violinos de Stainer eram mais procurados até do que os de Stradivari.
Ele nasceu por volta de 1619 em Absam; os ancestrais paternos eram do Tirol do Sul e o pai trabalhava nas minas de sal. Sua mãe Barbara Pomberger e seus pais, Joachim e Anne Posch, eram de Absam. Os Stainers viviam em Absam, em Breitweg. Jacob frequentou a escola até 1630, provavelmente aprendeu latim e falava italiano. Ele foi enviado para Innsbruck para aprender a arte da construção de órgãos com Daniel Hertz, mas não demonstrando muito interesse pelo trabalho com o referido instrumento, foi direcionado para a construção de violinos, onde era necessário um bom conhecimento técnico, artístico, de desenho, escultura e materiais.
Estudou técnicas de marcenaria com um parente, Hanns Grafinger. Por volta de 1630 a 1643, foi para Cremona para completar seus estudos como luthier, possivelmente como aluno de Nicolò Amati, embora os registros históricos não sejam completos o suficiente para fundamentar essa suposição. De qualquer modo, em suas primeiras peças das quais data da década de 1630, guardam fortes semelhanças com as de Amati. Supostamente ele também tenha ido a Veneza para trabalhar por um curto período com Vermercati. No ano seguinte abriu a sua oficina e casou-se, em 26 de novembro, com Margarete Holzhammer com quem teve oito filhos. O luthier continuou a produzir instrumentos excepcionais para músicos da corte e para a orquestra das catedrais de Innsbruck, Salzburg, Munique, Nuremberg, Bolzano, Merano, Bressanone e a corte da Espanha.
Stainer acabou se estabelecendo em seu local de nascimento, Absam, em 1656, onde começou a produzir alguns de seus melhores instrumentos, que parecem ter sido inspirados no Grande Padrão de Amati. Nesse período, Stainer ganhou grande projeção e, durante grande parte do restante do século XVII, produziu instrumentos excepcionais que rivalizaram ou até superaram as obras de seus contemporâneos cremoneses.
Naquela que hoje é conhecida como 'Casa de Jacob Stainer' (em alemão: Stainer-Haus), construiu seus instrumentos, incluindo o mais precioso, preservado no Tiroler Landesmuseum (Ferdinandeum) em Innsbruck.
O legado de Stainer foi fundamental nas escolas venezianas e florentinas do início a meados do século XVIII, mas também se espalhou pela Inglaterra, Alemanha e em seu país natal, a Áustria. Na verdade, os modelos Stainer eram tidos em alta conta antes que a influência de Stradivari se tornasse mais importante no final do século XVIII. No entanto, as cópias de Stainer do período tendem a exagerar suas características estilísticas singulares fora de proporção com o refinamento equilibrado de suas próprias obras.
Em 1658, Ferdinand Charles, Arquiduque da Áustria, concedeu-lhe a honra de 'Servo do Arquiduque' até 1662, quando o Arquiduque morreu. Em 1669, Leopold I, Sacro Imperador Romano, nomeou-o 'servo imperial'. No mesmo ano ele foi preso em Innsbruck, tendo sido encontrado em posse de livros sobre o luteranismo, e teve que fazer um ato de arrependimento; entre 1670 e 1679 ele continuou a receber ordens da igreja.
Em 1680, provavelmente devido à perseguição como herege, ele caiu em uma síndrome maníaco-depressiva, morrendo três anos depois em Absam.
Principais características dos instrumentos Stainer:

  • Parte inferior do fundo ampla;
  • bombatura pronunciada mais alta do tampo do que a do fundo;
  • habilidade altamente qualificada, particularmente exibida em volutas bem definidas e, ocasionalmente, cabeças esculpidas de leões, anjos ou mulheres; e
  • verniz variando em cor de âmbar a vermelho-alaranjado, comparável em brilho ao verniz cremonês.
Fotos de um Stainer construído em 1665:


By Miguel De Laet June 30, 2025
RESUMO: Este artigo, fragmento atualizado do meu trabalho de conclusão de curso em Gestão Empresarial na FATEC-SCS “Antonio Russo”, busca apresentar fatos históricos importantes para o desenvolvimento da luteria e da indústria de instrumentos musicais no Brasil, assim como dados econômicos e dos seus principais personagens, levando em consideração os impactos do período da pandemia. Uma reflexão baseada nos trabalhos de Mitsuru Yanaze e Grant McCracken auxiliam na compreensão de como os produtos da indústria criativa podem se tornar economicamente viáveis. INTRODUÇÃO Luteria é um termo que se refere à palavra luth , de origem francesa, que significa alaúde, um instrumento de cordas muito popular durante a Idade Média. Assim, luthier era o artesão que construía alaúdes. Com o passar dos anos – e a evolução dos instrumentos - houve o declínio pela procura do alaúde, e os luthiers passaram a construir outros instrumentos musicais, como as vihuelas , os violões, os violinos, e, mais recentemente, os instrumentos elétricos como guitarras, baixos e até mesmo violinos elétricos. O termo luteria, apesar da praticamente extinção do alaúde, resistiu e começou a designar – de forma genérica - a arte de produzir instrumentos musicais, em especial os instrumentos de corda feitos em madeira. Não raramente o termo também é utilizado, de forma imprecisa, para designar também reparadores de instrumentos musicais, o que estende o seu uso coloquial - que também utiliza "luthieria" como variante do termo formal "luteria" - para designar todo profissional que trabalha na fabricação ou reparação de instrumentos musicais de cordas. A história da fabricação de instrumentos musicais em território brasileiro, caso sejam considerados os instrumentos de rituais indígenas, remete a tempos imemoriais, como pode ser constatado nos relatos sobre a Trombeta Jurupari. Além disso, existem registros de instrumentos musicais utilizados na evangelização dos índios nos primeiros anos de colonização sendo produzidos com o intuito de replicar os instrumentos europeus, originando a viola branca e a rabeca, por exemplo. A tradição de produzir os referidos instrumentos continua em manifestações folclóricas como o fandango caiçara. No entanto, quando se trata da atividade econômica, é forçoso dizer que a luteria brasileira iniciou no final do século XIX, em especial com os imigrantes italianos que desembarcavam no país, onde a “progressiva abolição da escravatura, antes mesmo de se consumar, com a lei Áurea, em 1888, criava a necessidade de braços para o trabalho, em especial na lavoura” (WERNECK, 2008). Num primeiro momento, estes imigrantes ocuparam a região sul do país e, logo em seguida, começaram a povoar a região paulista, cuja economia vivia um momento de expansão devido a agricultura do interior que vivia um grande momento com a produção do café, bem como o processo de industrialização da capital que estava em ritmo acelerado, o que justifica o apelido que, futuramente, receberia de “locomotiva do país”. Werneck informa que em 1900, mesmo ano de fundação da reconhecida fábrica de instrumentos musicais Giannini em São Paulo, o número de italianos residentes no Estado era calculado em 800 mil. Um dado apresentado pelo referido autor nos ajuda a dimensionar a contribuição da mão de obra imigrante no início do século XX: em 1901, 90% dos empregados nas fábricas da capital paulista eram italianos. Sendo assim, a indústria brasileira de instrumentos musicais surgiu neste momento promissor. Tranquillo Giannini, nascido em 1876, chegou ao Brasil em 1890. Não se pode afirmar se, ainda adolescente, já se havia iniciado no ramo da luteria. O que se conta é que era dotado de grande habilidade no trato com a madeira, sendo capaz de fabricar tanto móveis como peças mais complexas, carros alegóricos, por exemplo. Um dia lhe apareceu um músico pedindo que consertasse o seu violão. ´Se eu fizer um violão vai ser melhor do que este´, gabou-se Tranquillo. ´Pois eu duvido!´, rebateu o outro. O desafio, há quem diga, é que teria precipitado o jovem imigrante em seu ofício de luthier. Pôs-se a fazer violões cada vez mais elogiados, até que a demanda crescente o levou a criar, em 1900, a fábrica de instrumentos de corda que tem seu sobrenome e que, mais de um século depois, segue em atividade. (WERNECK, 2008)
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