A guitarra barroca "Sabionari" 1679 de Antonio Stradivari

July 4, 2022

Ou - por que não? - Violinha do "Seu Strad"!

Quando pensamos no mais aclamado luthier de todos os tempos, Antonio Stradivari, inevitavelmente nos vêm a mente os lendários violinos que até hoje inspiram muitos mestres da luteria. No entanto, a nossa "violinha Sabionari", construída em 1679, é uma das cinco guitarras barrocas feitas pelo mestre dos mestres na arte da Luteria. Ela atualmente faz parte do acervo de um colecionador privado e está em exposição no Museu do Violino em Cremona, Itália.


A guitarra barroca de Stradivari possui cinco pares de cordas, trastes confeccionados com tripa e madeiras tradicionais na construção dos instrumentos musicais europeus, como o abeto e o acero (ou maple).


Uma carta escrita em 1854 pelo proprietário daquela época, um negociante de artes, Filippo Benetti de Ferrara, a um novo comprador, um proprietário de terras da Bolonha, Vincenzo Tioli apresenta informações sobre como o instrumento chegou às suas mãos. Segundo a carta que registra o paradeiro do instrumento entre os séculos 18 e 19, Benetti comprou a violinha de Giovanni Sabionari (por esta razão o instrumento é nomeado atualmente deste modo), que tinha adquirido diretamente de um descendente da família Stradivari e, desde o momento que adquiriu até o momento da venda para Benetti não foi repassado para mais ninguém.


Em 1997, o pesquisador Gianpaolo Gregori publicou um estudo apresentando a história e uma análise comparativa organológica das cinco "violinhas" remanescentes construídas por Stradivari, incluindo a "Sabionari" - e descreveu o paradeiro do instrumento após a sua venda em 1854: em 1888, a "violinha" esteve nas mãos de um novo proprietário, F. Donati, que a apresentou na Feira Internacional de Instrumentos Musicais em Bolonha . A apresentação técnica ficou a cargo do luthier Giuseppe Fiorini, e o honorável presidente foi Giuseppe Verdi.


Entre os anos de 1935 e 1945 (período da Segunda Guerra Mundial), a violinha foi vendida em Bolonha para um negociante chamado G. Bagnoli pelos seus proprietários na época. E durante a 10 ª Convenção de Violão em Bolonha , no dia 5 de dezembro de 1948, foi apresentada para Andres Segovia.


O famoso violonista espanhol examinou a violinha minuciosamente e decidiu inserir sua assinatura dentro do instrumento, bem próximo da boca: "Due secoli più tarde, A. Segovia Bologna 1948" .


Em 1984, a "Sabionari" era exibida na Exposição "L´uomo e il legno" em Milão, e a sua exposição técnica ficou a cargo de Bruce Carlson, convidado Gianpaolo Gregori para examinar a violinha. Stewart Pollens, antigo restaurador de Instrumentos Musicais  do Metropolitan Museum of Art em Nova York, incluiu um capítulo para as guitarras Stradivari em seu livro de 2010 "Stradivari", onde ele descreve a "Sabionari" antes de sua restauração em 2011.


Ao final de 2010, os atuais proprietários confiaram ao luthier francês Sinier de Ridder a restauração da violinha. Infelizmente nenhuma destas violinhas Stradivari estavam em condições de serem tocadas e, por essa razão, ninguém no mundo moderno teve a oportunidade de ouvir o som destes instrumentos. Mas isso mudaria no mundo pós-moderno!


Em 27 de abril de 2011, a Sabionari foi exibida no Fabre Museum em Montpellier, quando Sinier de Ridder apresentou detalhes sobre o processo de restauração, e a violinha construída por Stradivari teve a oportunidade de ser ouvida pela primeira vez com uma performance do violonista Krishnasol Jiménez Moreno. Em março de 2012, Sinier de Ridder produziu um certificado de autenticidade do instrumento.


Em junho de 2012, 333 anos após ser construída, a Sabionari retornou à Cremona e foi confiada à Fondazione Museu del Violino Antonio Stradivari. Atualmente está exposta como parte da coleção "Amigos de Stradivari" do Museu do Violino.  O restaurador do museu, Fausto Cacciatori, descreveu a violinha em um artigo publicado em um suplemento da revista The Strad em Setembro de 2013.


Em Junho e Setembro de 2012, Krishnasol Jimenez Moreno fez a primeira gravação da violinha Sabionari, executando peças publicadas por Robert de Visée em Paris em 1682.


Moreno cita: "Gravando um CD com um instrumento do qual não foi tocado nos últimos 200 anos, e que foi restaurado, já constitui um desafio. Adicionalmente, nenhuma outra gravação foi realizada com nenhuma outra viola Stradivari até esta data; tudo isso feito para uma experiência emocionante. Assim como a música de Visée se mostra uma fonte de conhecimento, um envolvimento aprofundado com um instrumento de seu tempo enriquece nossa compreensão da arte da interpretação. O caminho no qual um som específico é produzido, o fraseado do texto musical, e a busca da digitação apropriada são diretamente influenciados pelo instrumento. Neste sentido eu encontrei um mestre excepcional  na guitarra "Sabionari" .


No dia 10 de maio de 2014, Gianpaolo Gregori, Fausto Cacciatori, Lorenzo Frignani e o violonista Rolf Lislevand participaram de uma palestra do Museu del Violino  em Cremona intitulada "Stradivari costruttore di chitarre, la Sabionari del 1679" . Naquela noite, Lislevand tocou na "Sabionari" em um Concerto.


Ele descreveu da seguinte forma: "Este instrumento tem um incrível equilíbrio de dois parâmetros, ataque e ressonância, jamais ouvidos em outro. Eu optei por trazer músicas quase nunca tocadas: óperas italianas da primeira metade de 1600. Tocar uma cópia moderna de guitarra barroca não me dava a sensação de ter entendido. Com uma guitarra desta qualidade, esta música renasce milagrosamente".


De janeiro a abril de 2015, a Sabionari foi exposta no HMB - Museum für Musik in Basel como parte da Exposição "GUITARORAMA - Guitars from Stradivari to Stratocaster".   A viola também foi apresentada com a palestra de Sinier de Ridder e um concerto de Krishnasol Jiménez Moreno na Musik-Akademie Basel . Em Junho de 2015, Jiménez Moreno gravou um novo álbum no auditório do Museu del Violino em Cremona executando músicas de Angelo Michele Bartolotti  escritas por volta de 1656. 

Confira Rolf Lislevand tocando a guitarra barroca "Sabionari" construída por A. Stradivari.

By Miguel De Laet June 30, 2025
RESUMO: Este artigo, fragmento atualizado do meu trabalho de conclusão de curso em Gestão Empresarial na FATEC-SCS “Antonio Russo”, busca apresentar fatos históricos importantes para o desenvolvimento da luteria e da indústria de instrumentos musicais no Brasil, assim como dados econômicos e dos seus principais personagens, levando em consideração os impactos do período da pandemia. Uma reflexão baseada nos trabalhos de Mitsuru Yanaze e Grant McCracken auxiliam na compreensão de como os produtos da indústria criativa podem se tornar economicamente viáveis. INTRODUÇÃO Luteria é um termo que se refere à palavra luth , de origem francesa, que significa alaúde, um instrumento de cordas muito popular durante a Idade Média. Assim, luthier era o artesão que construía alaúdes. Com o passar dos anos – e a evolução dos instrumentos - houve o declínio pela procura do alaúde, e os luthiers passaram a construir outros instrumentos musicais, como as vihuelas , os violões, os violinos, e, mais recentemente, os instrumentos elétricos como guitarras, baixos e até mesmo violinos elétricos. O termo luteria, apesar da praticamente extinção do alaúde, resistiu e começou a designar – de forma genérica - a arte de produzir instrumentos musicais, em especial os instrumentos de corda feitos em madeira. Não raramente o termo também é utilizado, de forma imprecisa, para designar também reparadores de instrumentos musicais, o que estende o seu uso coloquial - que também utiliza "luthieria" como variante do termo formal "luteria" - para designar todo profissional que trabalha na fabricação ou reparação de instrumentos musicais de cordas. A história da fabricação de instrumentos musicais em território brasileiro, caso sejam considerados os instrumentos de rituais indígenas, remete a tempos imemoriais, como pode ser constatado nos relatos sobre a Trombeta Jurupari. Além disso, existem registros de instrumentos musicais utilizados na evangelização dos índios nos primeiros anos de colonização sendo produzidos com o intuito de replicar os instrumentos europeus, originando a viola branca e a rabeca, por exemplo. A tradição de produzir os referidos instrumentos continua em manifestações folclóricas como o fandango caiçara. No entanto, quando se trata da atividade econômica, é forçoso dizer que a luteria brasileira iniciou no final do século XIX, em especial com os imigrantes italianos que desembarcavam no país, onde a “progressiva abolição da escravatura, antes mesmo de se consumar, com a lei Áurea, em 1888, criava a necessidade de braços para o trabalho, em especial na lavoura” (WERNECK, 2008). Num primeiro momento, estes imigrantes ocuparam a região sul do país e, logo em seguida, começaram a povoar a região paulista, cuja economia vivia um momento de expansão devido a agricultura do interior que vivia um grande momento com a produção do café, bem como o processo de industrialização da capital que estava em ritmo acelerado, o que justifica o apelido que, futuramente, receberia de “locomotiva do país”. Werneck informa que em 1900, mesmo ano de fundação da reconhecida fábrica de instrumentos musicais Giannini em São Paulo, o número de italianos residentes no Estado era calculado em 800 mil. Um dado apresentado pelo referido autor nos ajuda a dimensionar a contribuição da mão de obra imigrante no início do século XX: em 1901, 90% dos empregados nas fábricas da capital paulista eram italianos. Sendo assim, a indústria brasileira de instrumentos musicais surgiu neste momento promissor. Tranquillo Giannini, nascido em 1876, chegou ao Brasil em 1890. Não se pode afirmar se, ainda adolescente, já se havia iniciado no ramo da luteria. O que se conta é que era dotado de grande habilidade no trato com a madeira, sendo capaz de fabricar tanto móveis como peças mais complexas, carros alegóricos, por exemplo. Um dia lhe apareceu um músico pedindo que consertasse o seu violão. ´Se eu fizer um violão vai ser melhor do que este´, gabou-se Tranquillo. ´Pois eu duvido!´, rebateu o outro. O desafio, há quem diga, é que teria precipitado o jovem imigrante em seu ofício de luthier. Pôs-se a fazer violões cada vez mais elogiados, até que a demanda crescente o levou a criar, em 1900, a fábrica de instrumentos de corda que tem seu sobrenome e que, mais de um século depois, segue em atividade. (WERNECK, 2008)
By Redação April 19, 2024
O violino ‘San Lorenzo’ Stradivari, 1718
By Miguel De Laet March 7, 2024
X-BRACING: o que é?!
By Miguel De Laet January 18, 2024
Relação de ferramentas básicas para um luthier
By Miguel De Laet December 4, 2023
Entrevista exclusiva que fiz com Hermann Hauser III e Kathrin Hauser publicada na revista Violão PRO sobre a história do tradicional ateliê, os violões históricos construídos e detalhes que fazem estes instrumentos serem referências no universo da luteria.
By Redação November 27, 2023
Um instrumento fascinante que pode te surpreender em termos de versatilidade, riqueza de timbres e facilidade no transporte.
By Redação November 24, 2023
Saiba o que levar em consideração na hora de escolher o melhor violão para iniciante
By M. De Laet September 29, 2023
Conhecendo os termos técnicos para evitar as "imprecisões" cada vez mais frequentes em denominar instrumentos de alto padrão no Brasil
December 16, 2021
Saiba tudo sobre endorsement.
December 16, 2021
Quem utiliza CNC pode ser chamado de luthier?
More Posts