A estrutura X-Bracing para violões de aço

Miguel De Laet • March 7, 2024

X-BRACING: o que é?!

Esses dias comecei a construir um violão com cordas de aço (Triple-O) e o nosso cliente ficou curioso a respeito dos motivos que não se deve utilizar cordas de aço em um violão clássico ou flamenco, entre outras questões. O bate-papo seguiu por inúmeros caminhos, como os aspectos de estética sonora e musical dos segmentos que utilizam estes instrumentos; o peso da tradição no uso de determinados materiais, como as cordas de tripa até a chegada dos inúmeros tipos de polímeros artificiais em monofilamentos e multifilamentos revestidos; até chegar nas características estruturais dos instrumentos musicais voltados para cada uso.


Quando se trata da construção de violões acústicos, o padrão das estruturas internas, ou, como também são chamadas, barras harmônicas, é um fator crucial na determinação da qualidade sonora do instrumento e também na sua natureza e finalidade. Curiosamente este é um aspecto que poucos leigos se atentam, inclusive músicos. O fato de ser algo "invisível aos olhos" também gera muitas "imprecisões" e dificuldade para mestrandos e doutorandos em musicologia, que, quando não possuem formação específica, geralmente buscam associar cordofones de diferentes estruturas e diferentes contornos a uma mesma família, ignorando essas características estruturais e estéticas que são, de fato, o que determina a sua natureza e origem. Apesar de algumas similaridades - e até mesmo "nomes parecidos" -, são como "parentes distantes" ou, não raramente, apenas "desconhecidos com o mesmo sobrenome" devido a uma origem remota similar no universo da organologia.


Quando desbravamos o "mundo dos violões de aço", nos deparamos com um tipo de estrutura bastante adotada por luthiers e fabricantes ao redor do planeta Terra: o suporte X. Existem algumas variações como a tradicional, estabelecida num período pré-guerra no final do século XIX e começo do século XX, passando pela variação do X-bracing deslocado para frente, posicionado bem próximo da boca do instrumento. Por menores que sejam essas variações, cada uma delas irá impactar de forma determinante as características timbrísticas e respostas sonoras do instrumento em questão.


O BÁSICO DO QUE SE DEVE SABER SOBRE O X-BRACING.


X-bracing é uma tradicional estrutura fundamental usada na construção de violões. Se baseia em duas braçadeiras em forma de X dentro da caixa de ressonância, proporcionando resistência e suporte ao tampo do violão, ao mesmo tempo que permite que ele vibre e produza som. Tradicionalmente, o suporte em X era posicionado não tão próximo da boca do instrumento, conhecido como estrutura padrão ou estrutura de instrumentos do pré-guerra. Com o passar dos anos, alguns construtores começaram a adotar essa estrutura em forma de X levemente deslocada para frente, se aproximando da boca do instrumento. O posicionamento e a "abertura" destas braçadeiras varia de construtor para construtor, mas o conceito se mantém o mesmo: a estrutura em forma de X.

Via de regra, quanto mais próximo da boca o centro do X é posicionado, teremos uma sonoridade mais viva e aberta com notas mais definidas. Quanto mais recuado temos o posicionamento do X, a sonoridade será mais forte, fechada e encorpada.

Logicamente outros fatores irão determinar o resultado final sonoro do violão, mas dominando este conceito, o luthier poderá realizar uma leitura da matéria-prima utilizada, compreender suas características tonais, capacidade de elasticidade e resistência para, assim, definir a voz do instrumento através do posicionamento do X, por exemplo.

Além do tradicional X-bracing, existem outros padrões que foram desenvolvidos, especialmente no final do século XX, sejam eles propostos pela grande indústria ou por luthiers que trabalham essencialmente com instrumentos de autor, sempre buscando aprimorar a qualidade do processo de "voicing" para privilegiar aspectos de projeção, volume e/ou definição de notas. Como exemplo, podemos citar o V-Class Bracing proposto pela Taylor, e o Falcate bracing desenvolvido pelo australiano Trevor Gore.

Mas estes são assuntos para outros futuros artigos.



E você? Sabe qual estrutura é adotada em seu violão?

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By Miguel De Laet June 30, 2025
RESUMO: Este artigo, fragmento atualizado do meu trabalho de conclusão de curso em Gestão Empresarial na FATEC-SCS “Antonio Russo”, busca apresentar fatos históricos importantes para o desenvolvimento da luteria e da indústria de instrumentos musicais no Brasil, assim como dados econômicos e dos seus principais personagens, levando em consideração os impactos do período da pandemia. Uma reflexão baseada nos trabalhos de Mitsuru Yanaze e Grant McCracken auxiliam na compreensão de como os produtos da indústria criativa podem se tornar economicamente viáveis. INTRODUÇÃO Luteria é um termo que se refere à palavra luth , de origem francesa, que significa alaúde, um instrumento de cordas muito popular durante a Idade Média. Assim, luthier era o artesão que construía alaúdes. Com o passar dos anos – e a evolução dos instrumentos - houve o declínio pela procura do alaúde, e os luthiers passaram a construir outros instrumentos musicais, como as vihuelas , os violões, os violinos, e, mais recentemente, os instrumentos elétricos como guitarras, baixos e até mesmo violinos elétricos. O termo luteria, apesar da praticamente extinção do alaúde, resistiu e começou a designar – de forma genérica - a arte de produzir instrumentos musicais, em especial os instrumentos de corda feitos em madeira. Não raramente o termo também é utilizado, de forma imprecisa, para designar também reparadores de instrumentos musicais, o que estende o seu uso coloquial - que também utiliza "luthieria" como variante do termo formal "luteria" - para designar todo profissional que trabalha na fabricação ou reparação de instrumentos musicais de cordas. A história da fabricação de instrumentos musicais em território brasileiro, caso sejam considerados os instrumentos de rituais indígenas, remete a tempos imemoriais, como pode ser constatado nos relatos sobre a Trombeta Jurupari. Além disso, existem registros de instrumentos musicais utilizados na evangelização dos índios nos primeiros anos de colonização sendo produzidos com o intuito de replicar os instrumentos europeus, originando a viola branca e a rabeca, por exemplo. A tradição de produzir os referidos instrumentos continua em manifestações folclóricas como o fandango caiçara. No entanto, quando se trata da atividade econômica, é forçoso dizer que a luteria brasileira iniciou no final do século XIX, em especial com os imigrantes italianos que desembarcavam no país, onde a “progressiva abolição da escravatura, antes mesmo de se consumar, com a lei Áurea, em 1888, criava a necessidade de braços para o trabalho, em especial na lavoura” (WERNECK, 2008). Num primeiro momento, estes imigrantes ocuparam a região sul do país e, logo em seguida, começaram a povoar a região paulista, cuja economia vivia um momento de expansão devido a agricultura do interior que vivia um grande momento com a produção do café, bem como o processo de industrialização da capital que estava em ritmo acelerado, o que justifica o apelido que, futuramente, receberia de “locomotiva do país”. Werneck informa que em 1900, mesmo ano de fundação da reconhecida fábrica de instrumentos musicais Giannini em São Paulo, o número de italianos residentes no Estado era calculado em 800 mil. Um dado apresentado pelo referido autor nos ajuda a dimensionar a contribuição da mão de obra imigrante no início do século XX: em 1901, 90% dos empregados nas fábricas da capital paulista eram italianos. Sendo assim, a indústria brasileira de instrumentos musicais surgiu neste momento promissor. Tranquillo Giannini, nascido em 1876, chegou ao Brasil em 1890. Não se pode afirmar se, ainda adolescente, já se havia iniciado no ramo da luteria. O que se conta é que era dotado de grande habilidade no trato com a madeira, sendo capaz de fabricar tanto móveis como peças mais complexas, carros alegóricos, por exemplo. Um dia lhe apareceu um músico pedindo que consertasse o seu violão. ´Se eu fizer um violão vai ser melhor do que este´, gabou-se Tranquillo. ´Pois eu duvido!´, rebateu o outro. O desafio, há quem diga, é que teria precipitado o jovem imigrante em seu ofício de luthier. Pôs-se a fazer violões cada vez mais elogiados, até que a demanda crescente o levou a criar, em 1900, a fábrica de instrumentos de corda que tem seu sobrenome e que, mais de um século depois, segue em atividade. (WERNECK, 2008)
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